Análise introdutoria :
-Quando a saudade é um lugar (e o presente um peso )
Escrevi esse poema num domingo à tarde, com uma música antiga do Chico Buarque tocando de fundo — daquelas que a gente ouve e, de repente, ‘o peito aperta’. Não foi planejado. Foi um soco do passado.
A verdade é que eu não sabia que guardava tanta saudade da casa da minha avó, daquele cheiro de café coado no filtro de pano, dos adultos conversando na varanda enquanto a gente brincava no quintal. O botequim da esquina? Era só um detalhe no cenário — o lugar onde os tios se reuniam, onde a vida parecia mais simples.
O "celular que nunca desliga" veio porque eu ‘odeio’ como o presente nos rouba desses momentos. A gente fica ali, rolando a tela sem ver, enquanto lá fora existe um mundo de cheiros, vozes e MPB tocando baixinho — coisas que minha avó conhecia, mas que eu deixei escorrer pelos dedos sem perceber.
Esse poema é sobre isso: sobre ‘querer fugir’ de um agora que às vezes parece só um intervalo sem graça entre memórias boas e um futuro incerto. E também sobre aquele abismo que a gente sente quando olha pra trás e pensa: "Por que eu não soube que era feliz?"
Mas tem um segredo aqui: eu sei que essa dor é mentirosa. A casa da vó tinha seus problemas, e o presente tem seus lampejos de luz. Só que, às vezes, a gente precisa escrever o que sente, não o que é real. Esse poema é o meu jeito de dizer: "Sim, eu sinto falta. E tá tudo bem chorar um pouco por isso."
Esse poema é pra todo mundo que já quis apertar o botão "voltar" da vida.
E, se ele te fez lembrar de algum cantinho do seu passado, me conta qual foi. Às vezes a saudade é menos solitária quando a gente divide ela.
Poema:
O Chico Buarque dilacera meu coração com suas canções,
que me fazem lembrar de antigamente,
me fazem lembrar da infância,
me fazem querer voltar ao passado.
A infância feliz,
o MPB me traz nostalgia,
me traz uma melancolia triste e alegre,
mas nostálgica.
Quero muito voltar ao passado.
O passado me quer de volta.
E, se eu pudesse voltar,
eu não voltaria para cá. Para cá.
E, nesse cá, está o futuro ou o presente?
Os dois?
Todos decididos pelo destino,
que me faz pensar que antigamente me trazia mais paz.
O que é verdade.
O agora,
o presente,
um celular que nunca desliga
mesmo que queiramos,
o depois,
o futuro,
me traz um
inferno.
Um
inferno
pessoal.
Não no sentido literal,
mas no sentido abstrato.
Infelizmente, queria estar em qualquer esquina de antigamente,
em qualquer botequim,
ouvindo um ligeiro MPB bem baixinho.
A saudade me dói,
me dói,
sempre aqui,
no futuro, no presente.
A saudade me dói,
me dói.
Espero que a saudade se afaste de mim,
e a nostálgica felicidade de mim,
me traga um fim.
Mas ainda é cedo.
A nostalgia me mata,
mas me abraça num conforto,
num conflito,
numa benção de paz.
Nostálgica nostalgia que me embala
até nos sonhos de um passado feliz,
à beira de um abismo.
Um abismo.
Abismo.
Ass: Clara Neri.
PS: Criei isso, odiei, depois amei, depois odiei de novo.
Agora tá aqui e eu tô cansada.
Interpretem como quiserem – ou ignorem.
Bye!
Gabsss, fico muito feliz que você tenha gostado! Sua reflexão é perfeita. Obrigado pelo comentário sincero🤍
gostei demais desse poema, muito bonito. às vezes parece que muitas coisas no passado eram tão melhores do que agora, mas talvez nossa eu do passado iria falar "que? isso é uma chatice!" enfim, é tudo uma questão de perspectiva, e quando estamos de fato no local e no tempo infelizmente n valorizamos muitas coisas, o importante é fazer isso agora também, pra que no amanhã a gente não pense "queria tanto voltar pra lá e ter aproveitado mais". só uma reflexão que fiz, amei seu texto